Os pouco mais de três dias do presidente Jair Bolsonaro em Nova York deixaram saldo negativo para a já arranhada imagem do governo.

Levantamento da consultoria de análise de redes sociais .MAP mostrou que houve uma visão majoritariamente negativa sobre as ações de Bolsonaro e da comitiva brasileira nas Nações Unidas (ONU) na internet, um dos principais termômetros políticos do presidente.

Do discurso de Bolsonaro no plenário da ONU ao diagnóstico de covid-19 do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a temática mobilizou 1,15 milhão de publicações no Twitter e nos perfis abertos do Facebook.

Bolsonaro, como sempre, foi o assunto do momento: sua viagem respondeu por quase metade (47%) de todo o debate nas redes, superando outros temas políticos, como a CPI da covid-19 Congresso.
Mas a boa notícia para o governo para por aí. Na terça-feira, 21, o discurso de Bolsonaro no plenário da Assembleia Geral da ONU foi alvo de muitas críticas nas redes ao longo do dia, assim como sua ida ao evento sem se vacinar. E o cenário piorou horas depois, quando Queiroga foi diagnosticado com covid-19, já à noite.

Não só a oposição criticou amplamente esses fatos, como a própria base de Bolsonaro nas redes ou perfis influenciadores de direita foram menos engajados para defender o governo, diz a .MAP, o que levou a um tom mais negativo do debate no geral.

“O público de direita, que normalmente tem comportamento de torcida de um único time, desta vez se dividiu. Os apoiadores de Bolsonaro se mobilizaram e parte manifestou reprovação”, diz Giovanna Masullo, diretora-executiva da .MAP.

Entre o público de direita apoiando o governo, parte tentou focar na narrativa de que Queiroga pegou covid-19 mesmo tendo se vacinado e usando máscara, diz a .MAP, além de críticas à necessidade de passaporte da vacinação em Nova York.

Ainda assim, em uma análise qualitativa sobre as postagens, o grupo classificado como “opinião pública bolsonarista”, que inclui usuários de direita e no geral alinhados ao presidente, teve positividade de somente 51% nas postagens sobre o tema. A taxa foi a mesma do grupo de “influenciadores bolsonaristas”.

Esses dois públicos costumam ter positividade de 95% ou mais sobre os temas envolvendo o presidente, explica Masullo, o que mostra o quanto a base foi menos barulhenta desta vez.

Enquanto isso, fora da base de apoio, as críticas correram soltas, inclusive entre perfis não necessariamente partidários.

Influenciadores que a metodologia caracteriza como “não militantes”, que costumam ajudar a mover o pêndulo das redes para um ou outro lado, lideraram as postagens sobre Bolsonaro, que foram majoritariamente negativas.

“A participação do presidente Jair Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU não foi positiva para sua imagem nas redes sociais. A opinião pública não militante reafirma com sua passagem por Nova York o descontentamento com o presidente”, diz Masullo.

Embora seja disparado o político com mais relevância nas redes sociais, muito à frente de nomes como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Bolsonaro tem conseguido cada vez menos falar para além de sua base mais fiel de apoiadores na internet, como mostraram as análises após o 7 de setembro.

Em Nova York, mesmo antes do diagnóstico de covid-19 de Queiroga na terça-feira, o discurso do presidente na ONU já havia tido somente 14% de positividade nas postagens.

Isto é, embora o presidente tenha tentado, no discurso, falar para o público interno no Brasil, a mensagem foi mal recebida — e sua base ativa nas redes não conseguiu mudar essa percepção.

O levantamento das postagens mostra que também chamaram atenção nas redes a foto de Bolsonaro comendo pizza com ministros na calçada, por ter sido barrado em restaurantes ao não apresentar comprovante de vacinação.

A publicação do prefeito de Nova York, o democrata Bill de Blasio, marcando o perfil de Bolsonaro e dizendo ao presidente que se vacinasse foi também um dos assuntos mais comentados, com quase 20% de todo o debate sobre o tema. Nesse caso, foram somente mensagens negativas ao presidente.

 

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