O candidato é mesmo o mais gabaritado e tem ficha limpa, atestada por institutos de reputação igualmente ilibada? O sabão em pó realmente limpa e realça mesmo o branco? A companhia telefônica ou empresa de tv por assinatura oferece produto verdadeiramente comprometido com causas sociais? O automóvel está mesmo afinado com as mais eficientes tendências de redução de combustível e apresenta tecnologias para segurança do condutor e acompanhantes? O valor pago no pedágio é mesmo empregado nas estradas? Em breve teremos que pagar – e muito dinheiro – para termos acessos às respostas desse tipo de perguntas e de outras. Notícias de fatos reais, sem maquiagem, nem interpretações, situação bem rara, daí a incidência do fator inflacionário, ganharão alto valor.
As indicações nesse sentido estão associadas à ocorrência de fake news. Cada vez mais constantes, escancarando uma estratégia que pode estar ligada a governos (vide Trump/EUA/Rússia) ou às principais companhias noticiosas do mundo em busca de valorizar seu produto (a notícia), surgem inocentemente, quando incautos espalham aquilo que sua personalidade e (falta de) formação quer entender como verdade. Podem ser passos estrategicamente estimulados. Nesse caso, a viralização tem claros objetivos: realçar qualidades daquilo que ganhará status de fato verídico ou atacar concorrentes, cuja atuação, espontânea ou arquitetada, ganhou espaços nobres nas mídias.
Assim, está em jogo manter o valor de mercado da notícia – e sua escassez vai trazer maior valorização. No âmbito dos bits, o momento é a gênese do processo de destruição de fontes e publicações de alta penetração hoje, mas de vida efêmera. Entram aqui sites, blogueiros, youtubers e outras netpersonalidades que surfam na onda da tecnologia digital. A guilhotina deles é o surgimento de um tal de selo de qualidade, que não está tão distante assim: filhas do atual processo de esvaziamento das redações, já existem empresas especializadas em checar fake news (sic).
O paradoxo está na descoberta das fake news de protagonistas digitais como replicadores das notícias falsas que a imprensa dita “respeitável” geralmente também publica, em deslizes humanos, suspeitos ou não.
Tal situação pode-se e deve-se projetar também no mundo da Cultura e Comportamento. Centenas de artistas são crias das fake cult news. Muitos deles já queimaram a placa-mãe de sua CPU artística ou estão à beira desse fato acontecer. Antes do mundo digital lhes dar um pau de vez, alguns, espertamente, saltaram para outras plataformas, seja em forma de garoto-propaganda em campanhas publicitárias ou em palcos nos intragáveis shows e stand-up comedy. Como a história se repete, acontecerá com eles o que aconteceu com a maioria dos VJs da extinta MTV (alguém se lembra de alguns deles, ou mesmo da emissora?).